O marco e a orientação do astrólogo
A astrologia esotérica não nega os postulados da astrologia convencional, antes, os amplia ou, melhor dizendo, nutre-os com maior significado. Em nível psicológico, seria possível dizer que a astrologia comum opera com alta eficiência na interpretação do que ocorre com um sujeito nos seus níveis físico, emocional e mental, ou seja, até alcançar a integração da personalidade.
Contudo, a experiência nos demonstra que a evolução continua, e que cada vez é maior o número de pessoas às quais as respostas que a astrologia comum proporciona não parecem ser suficientes ou carregadas de conteúdo, e é aí onde surge a astrologia esotérica.
Neste sentido, o esotérico tem a ver com a consciência, assim como o exotérico com a forma e o divino com a Vida, embora, neste último caso, estejamos falando de um nível iniciático, no âmbito geral alheio a uma consulta astrológica.
A astrologia esotérica possui, então, um método e uma base teórica apropriados para proporcionar as respostas em nível da alma, e deve, pois, complementar o que possa dizer a astrologia comum, que embora investigando significados espirituais, muitas vezes carece da amplitude e toque de “presença” de um enfoque esotérico.
Por último, embora já o tenhamos manifestado, nunca é demais dizer que a AE é uma ciência em construção ou, melhor dizendo, em desenvolvimento; é esse o desafio e o problema dos astrólogos, que para fazer uma interpretação esotérica se veem diante de um conjunto de regras gerais e vagas, não específicas para um caso individual. Isto pode desalentar, pois requer um esforço de vontade para extrair os significados e significações necessários, mas, na realidade não se trata senão de um campo para avançar no Caminho, demonstrando vontade de permanecer na luz e entrega ante a necessidade espiritual daqueles que procuram fazer contato com energias superiores.
Este poderia ser o enfoque interno que o astrólogo esotérico adotaria, o de estar disposto a oferecer a sua consciência e complementar, com o que está mais além da consciência, uma demanda espiritual, em certo sentido seria ter a sensibilidade para atrair a consciência até o plano mental, ou impulsionar ou reforçar o processo de construção do antakarana, que relaciona a forma com a superconsciência.
Vejamos a seguir algumas reflexões específicas que podem ser úteis para oferecer uma interpretação esotérica. Esclareço que são conclusões pessoais e em todo momento devem ser lidas à luz da própria intuição do leitor, a fim de corrigir qualquer distorção.
Interpretação na prática
Parte-se dos fatores mencionados pelo Tibetano em Astrologia Esotérica: o signo Ascendente, símbolo das energias que conduzirão à plena realização, e o grau de desenvolvimento espiritual do consulente, que afetará a sua capacidade de resposta às energias reveladas e ocultas no mapa. Aqui se dá uma inter-relação com o Ascendente que será elucidada mais à frente.
O Ascendente
Com base no exposto acima, partimos do princípio de que nos encontramos enfocados e diante de um mapa natal que devemos interpretar.
Diferentemente da astrologia comum, na esotérica toda a interpretação é elaborada em torno do signo Ascendente, que como assinalávamos, simboliza a classe de energia que a alma deve expressar e com a qual a personalidade deve se harmonizar durante a encarnação.
O que se entende por elaborar a interpretação em torno do signo Ascendente? Uma resposta seria considerar que todos os significados oriundos do mapa devem se coordenar com o Ascendente; todos devem oportunamente se subordinar às energias que emanam do mesmo e constituir seu campo de expressão, o qual estará matizado por sua energia; em teoria, a energia da alma expressando-se através dos seus centros.
Aprofundando a questão, poderíamos dizer que o núcleo de consciência, ou o centro do mapa é o Ascendente, que engloba os demais elementos, e tem uma especial relação com o Sol (a personalidade) e a Lua (o passado, as tendências regressivas). O significado que encerra cada Ascendente deve ser cuidadosamente meditado e aplicado.
Os regentes do mapa
Vale recordar que a energia do Ascendente se expressa através do seu planeta regente, o qual variará de acordo com o estado espiritual do consulente. Recordemos que existem três regentes, o exotérico, o esotérico e o hierárquico.
Isso nos leva ao ponto de partida da interpretação, que é determinar o estado de consciência do consulente. Como sabemos, a posição dos astros é o reflexo de um conjunto de vibrações que afetaram ou condicionaram a consciência da pessoa ao nascer, fazendo dela o que é hoje e lhe apresentando os desafios espirituais que deverá resolver a fim de seguir adiante no Caminho. Assim, a Hierarquia espiritual do ente encarnante decidirá se esses condicionamentos o limitam ou não, ou de que maneira o fazem.
É, pois, muito importante poder determinar de modo geral o ponto da escala evolutiva em que a pessoa se encontra, porque indicará a sensibilidade ou não às potências dos signos via os planetas regentes; vale dizer, a energia do signo se verterá através de determinado regente de forma similar ao seguinte quadro:
Pesso Núcleo da vivência Planeta Regente
Aspirante Forma Exotérico
Discípulo (1º y 2º iniciação) Consciência Esotérico
Iniciado (3º iniciação em diante) Vida Hierárquico
A chave aqui é poder determinar a ênfase da vivência, o que também requer certa preparação por parte do astrólogo e, para melhor compreender esse ponto, refiro-me ao artigo específico sobre o tema.
Três estados de desenvolvimento espiritual
Com referência à vivência, devemos ter em conta que a maioria da humanidade vibra no nível da forma, seja no plano astral ou, um tanto menos, no mental, em cujos níveis superiores se faz contato com a alma e, em consequência, é de se esperar que uma grande quantidade de mapas seja de pessoas que transitam pelo Caminho como aspirantes.
Com o avançar da evolução, procura-se extrair um significado do conjunto de experiências e conhecimentos alcançados, gerar uma consciência, e aí emerge a vibração da alma, que o fará mediante o signo Ascendente e o regente esotérico em pauta.
Naturalmente, todos nós vivemos isso em alguma medida, e aí reside também a esperança na elevação da humanidade que, em alguma medida, despertou em número expressivo e que, de maneira sempre crescente, emprega essa consciência no comportamento responsável e no estabelecimento de corretas relações humanas, entre outros.
Em outras palavras, é um processo de constante extração de significados e expresso como sabedoria ou luz nos três mundos, que assim vão se sanando e elevando a vibração, possibilitando, com o tempo, extrair significados mais claros e verdadeiros. Essa atividade vinculadora se dá, em especial, com o Ascendente, mas sem dúvida outros elementos exercem um papel, os quais se acomodarão à vibração expressada pelo mesmo.
Como afirma a teoria oculta, a personalidade e a alma primeiro lutam, para depois se fusionarem, e é possível apreciar essa relação através do regente exotérico e do esotérico; cada um regerá e tratará de expressar a energia ou força de uma maneira, o que arrastará a pessoa para o regressivo ou para o evolutivo. Isto pode ser prevenido ou ser encarado com mais cuidado, desde que haja conhecimento de signo, casa e aspectos, por exemplo.
Resta dizer algo sobre a vivência da forma com relação ao aspirante espiritual: não devemos pensar que, por ter uma tendência espiritual, já possui plena consciência e cabe lhe atribuir um regente esotérico. Por exemplo, todos experimentamos a situação de querer prestar um serviço; se a reação natural e espontânea foi fazer algo concreto pelo mero fato de atender a uma necessidade, essa força exteriorizada foi da forma, por mais ampla que tenha sido a necessidade atendida. Mas, se neste serviço foi incluído um envoltório de consciência ou, em outras palavras, se houve reflexão e se o significado do serviço não se perdeu na cegueira dos três mundos, pode-se pensar, então, que, sim, se atuou como alma. É a clássica metáfora de colocar a carroça antes dos bois, exposta no hinduismo e também por Platão, para citar referências.
Mas isso não invalida o serviço na forma e desde a forma, porque outros discípulos ou iniciados, podendo ter a visão clara, o efeito egoico se produz, mas deveria nos dar uma advertência na hora de determinar o status espiritual próprio e o do consulente. O exposto seria válido inclusive para os servidores do sétimo raio, que por tendência natural trabalham no plano da forma concreta, mas novamente é preciso ter em conta a capacidade de manter o significado. Se o que prima é o fazer por fazer e o lutar nos três mundos, para além dos resultados o que prevalece é a forma.
Por seu vez, uma consciência egoica fluirá através do regente esotérico do mapa, e seu impacto não pode ser medido como forma, mas como significado, isto é, não será apreciado como algo visível, mas como algo velado. Por exemplo, consideremos um Ascendente Aquário. O regente esotérico é Júpiter que, suponhamos, se encontra na Casa I, exotericamente da personalidade. Uma interpretação na forma nos poderia levar a considerar que Aquário via Júpiter tornará o caráter rebelde, expansivo, jovial e otimista, com capacidade de dar aos demais. Por sua vez, um significado mais profundo poderia ser o de que Aquário, como Ascendente com Júpiter na I, indica um ciclo de irradiação da personalidade, que talvez devesse extrair na profundidade ou nas distintas maneiras de dar e, assim, não sobre-estimular a natureza astral com bons desejos e hiperatividade emocional.
A inspiração de um discípulo é a sua alma, e essa energia é captada através do regente esotérico do seu Ascendente em seu aspecto principal. Essa fonte de inspiração é tudo nas primeiras etapas do Caminho, mas chega um momento em que o desenvolvimento espiritual conduz o discípulo mais além da 2º iniciação, e começa definidamente o processo de reorientação em direção à Mônada, posto que a alma deixa de ser suficiente para expressar a divindade intrínseca do discípulo. É quando se busca uma nova fonte de inspiração, e essa nova energia é recebida através do regente hierárquico do mapa.
Por último, como distinguir uma consciência iniciática? Para esse fim podemos realizar um raciocínio intuitivo.
A consciência de um iniciado não é uma consciência, no sentido em que conhecemos a palavra, porque a vibração dos seus veículos é tão alta que praticamente não existem intervalos na busca de significados; em nível emocional a percepção é quase sem sensações astrais, e em geral a compreensão é tão grande que se capta imediatamente o que uma situação determinada encerra, sem se deter na mente, por assim dizer; esta somente reveste de matéria o compreendido, mas não é utilizada concretamente.
Trata-se, então, de um estado de síntese, ao qual se chega justamente esgotando todos os significados que passam pela consciência. Quando desaparece essa “relação” ou “tempo” entre conceitos e emoções, subiste um estado que o Tibetano chama de “identificação”, o qual vem complementado por uma tremenda energia dinâmica, a do propósito espiritual, que em principio aflui em momentos, cada vez que é possível extinguir a brecha da consciência, e parece ser total a partir da quarta iniciação, quando a consciência em si deixa de ser necessária e, por fim, o corpo causal é destruído.
A possibilidade de que reja o regente hierárquico do mapa é então remota, mas pode acontecer e convém também estar familiarizado com este nível espiritual.
Valem então as referências, entre muitas outras possíveis, a fim de poder determinar o nível espiritual do consulente e a partir daí é possível identificar o regente ou o par de regentes apropriados, neste último caso em conflito. Será possível também atribuir um correto significado às colocações dos demais planetas do mapa, que naturalmente encerram energias distintas e conferem faculdades distintas quando se trata de um aspirante, de um discípulo ou de um iniciado.
É praticamente inútil dizer que não se tratam de compartimentos estanques, mas que os estados de consciência se sucedem e muitas vezes se superpõem, e daí o conflito. De outro lado, a prática e a intuição permitem ao astrólogo, cada vez mais, conhecer a extensão da vibração desprendida pelo mapa; a chave é abordá-lo enfocado da maneira mais elevada possível, em particular envolvendo o fator sintético.
Por fim, tenhamos claro o ponto de partida, isto é, o grau de desenvolvimento espiritual do nativo, para poder depois elaborar e relacionar os elementos do mapa em torno do signo Ascendente e seu planeta de expressão. O processo de interpretação deve ainda continuar, e contamos aqui com uma base prática sobre a qual continuar a análise esotérica do mapa.
Publicado por Logos
Email: logos.astrologiaesoterica@gmail.com
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