Martín Dieser
A energia de Leão é a da identidade espiritual, a do ponto em um centro que abarca todos os pontos. É o fogo solar, o fogo do coração, que outorga um apoio “no tempo” para que o ser demonstre o Plano que o inspira.
Já dissemos, em outra ocasião, que o Sol rege Leão, e que isto não seria assim para outros reinos da natureza; consciência para o homem é sensibilidade “desperta” ao não eu, pelo menos nas primeiras etapas, e é correto que assim seja: a fim de que a alma se desenvolva em todo seu potencial, é necessário um receptáculo conscientemente refinado e adaptado à sua energia; o trabalho na forma deve acompanhar o do eu superior, e o trabalho sob Câncer simboliza essa preparação prévia.
Em todo caso, a energia de Leão é a que possibilita este maravilhoso estado que é o da percepção de si mesmo. Como dizem os livros, “todos os seres são, mas somente o homem sabe que é”. Para gerar esta percepção individual, é imprescindível a separação, que o ser tenha a capacidade de se diferenciar do resto, e essa energia vem através do Quinto Raio de Conhecimento Concreto (chamado no Tratado dos Sete Raios “A Espada Divisora”), que por essa razão se expressa mediante Leão. Isto pode se manifestar ou não nos raios da pessoa; se não o faz, é possível que a energia esteja cumprindo uma função mais interna, mas nem por isso estará ausente.
Por sua vez, intimamente vinculada à separação, está a afirmação do ser, que assim como se percebe diferente se conhece como uma potência, como um ente gerador de causas, como o amo da sua própria vida. Trata-se da energia do Primeiro Raio de Vontade ou Poder, que também se expressa por meio de Leão. É por isso que, em certo sentido, a energia de Leão rege os governantes do mundo, porque a atividade deles tem muito a ver com o exercício da autoridade, que (diga-se de passagem) de acordo com as disposições mais aceitas, requer o consentimento do povo.
Caberia aqui uma reflexão sobre a democracia e a representação: pode-se ver como a igualdade e a fraternidade, a compreensão e o respeito, simbolizados pela democracia, constituem a base sobre a qual se ergue um verdadeiro governo que, em certo sentido, é a cabeça da sociedade, da qual está constantemente recebendo demandas. Aprecia-se aqui uma ação combinada de raios: o 2º de Amor – Sabedoria está simbolizado pela democracia e suas qualidades de bondade e busca horizontal de decisões; sempre o 2º é a base do 1º, que sintetiza a energia atraída até convertê-la em um ponto com somente o essencial.
Neste caso, o governo é a síntese das deliberações do povo, e assim como a autoridade espiritual se sustenta no amor e na compreensão, da mesma maneira a democracia é a base espiritual dos cargos representativos de governo. É por isso que O Tibetano, em O Destino das Nações, diz que a energia da Hierarquia de Mestres se encontra por trás da democracia, e a de Shamballa, que é a sua síntese, está por trás das figuras do rei ou do ditador.
Em todo caso, o período influenciado por Leão é muito propício para indagar interiormente acerca das origens da autoridade, da convicção que emana da verdade interior, do conhecimento de si mesmo. Outro fator ligado a essa condição é a identidade espiritual: todo ser humano tem um centro de consciência, um ponto a partir do qual se integra ao mundo e interatua com ele. De início, esse centro é o Sol físico, manifestando energia de 2º raio, e o ser crê que é o centro do universo, que tudo depende e gira em torno dele.
À medida que avança a evolução, gradualmente vai tomando consciência da inter-relação com o mundo, mas ainda mantém o estado no qual, em Astrologia Esotérica, descreve-se como “aquele que permanece só”, isto é, a percepção do eu próprio e do alheio nas questões diárias.
O interessante disto é que o anterior não seria o último degrau na evolução da consciência. À medida que a alma ganha em controle e revela seu poder, vai passando para a motivação espiritual, para a sensação do eu separado e também à colaboração e entrega aos demais, o que põe em ação uma energia oposta. A identidade espiritual se mantém, ao mesmo tempo em que a fortaleza do eu aparece como a etapa prévia imprescindível para expansões de consciência posteriores. Isto ocupa largo tempo.
Vem em seguida uma condição em que realmente é possível entender as palavras “Eu sou aquele, aquele sou eu”, lema esotérico do signo.
O sentido do eu, da personalidade vinculada à alma, é muito particular: o discípulo não vê indivíduos, vê energia e Plano, vê a consciência una e não as partes, a unidade que subjaz na diversidade da forma; não crê ser uno, É uno, respira unidade e assim se expressa nos três mundos, sendo por isso tão potentes e duradouros os efeitos que produz; é a energia do Amor de Deus em ação. Crer que a unificação chegará por meio de uma anulação do eu, ou que se produzirá uma misteriosa fusão com as ações de outros, é uma deformação (e um perigo) no sentido oposto ao que mencionava.
Na realidade, e como bem sabe quem percorreu o Caminho com sinceridade e dedicação aos demais, a consciência não tem uma forma tão cerrada como a que conhecemos. O sentido do eu se mantém, ao mesmo tempo que a energia que expressa é compartilhada, conflui ativamente com a Grande Energia que é o Plano de Deus. É a consciência do Todo que se tornou ponto; como diz Vicente Beltrán Anglada, “não é a gota no mar, mas o mar na gota”.
A crença de que a consciência ocupa um lugar é por si uma ilusão da mente humana, mas muito maior é a ilusão de crer que cada consciência ocupa um lugar separado da outra. Isto poderia ser melhor entendido através de uma analogia com a figura de um círculo concêntrico: à medida que se chega ao centro, muitas vidas passam a compartilhar de um “espaço” comum.
Esse espaço comum, esse vazio criador no qual se vive e sobre o qual se passa a afirmar a consciência é um conjunto de energias cuja forma mental é o Ashram, e no centro se encontra o Sol Central Espiritual, simbolizado pelo Mestre. Em uma escala menor, cada um de nós é parte dessa consciência grupal, e temos aí a base oculta da telepatia, embora não tenha que funcionar tão explicitamente e se manifesta como inspiração, recepção de ideias, etc.
Essa consciência comum é a base espiritual do princípio da fraternidade, que só pode ser entendido se for considerado da alma e não a partir da matéria, onde somos tão diferentes. É também a razão pela qual o trabalho espiritual pode ser realizado em grupo, porque coincide a fonte de inspiração e é a mesma energia que nos atravessa a todos; pela mesma razão, um discípulo pode implementar uma parte do Plano e outro dar continuidade a ela no plano físico, por exemplo; cada um, do seu estado de consciência, e todos necessários.
Outra reflexão que se extrai acerca da regência do Sol é sobre a união com a consciência alheia: muitas vezes se busca a aproximação através da palavra, o convencimento, a ênfase, etc. Seria útil, aqui, observar o Sol, que pela gravidade, concentração ou atenção consegue atrair o que o circunda. Em tal sentido, poderíamos dizer que uma boa maneira de se aproximar à consciência de outro é aprofundando esse nível antes que fazendo esforços do eu; a atenção baseada no amor, sobre si mesmo e sobre os demais, mas sempre tendo em conta o destino comum que é o da unidade da vida, é a maneira mais simples e profunda de chegar ao outro.
Leão nos proporciona então um ciclo onde é mais fácil levar a consciência para dentro, dar a ela mais profundidade e reforçar a identidade, para assim oferecer à alma um eu firme e valioso para prestar serviço; é ainda, como se assinalava, um ciclo para compreender em toda a profundidade o significado e as potencialidades da fraternidade espiritual.
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