Ricardo Georgini
Escorpião
O trabalho de Hércules ligado ao signo de Escorpião é a destruição da hidra de Lerna. Escorpião é um signo de conflitos e lutas, e de profundidade e intensidade. Este trabalho representa a busca de uma atitude mais esclarecida e abrangente a respeito dos desafios e embates da vida — lidando com as suas causas ocultas, e não apenas tratando dos efeitos.
A hidra era uma serpente monstruosa de nove cabeças. Quando atacada, ela se fortalecia a cada golpe, em vez de enfraquecer. E se uma cabeça era cortada, duas outras cresciam em seu lugar. Esse monstro asqueroso fez sua morada no pântano de Lerna e empesteou a água de toda a região, provocando doenças e mortes. A tarefa de Hércules era eliminar a causa da contaminação.
Em meio à atmosfera nebulosa do pântano, Hércules procurou em vão pela hidra. Finalmente, encontrou a sua toca: uma caverna profundamente escura. Então, ele atirou flechas flamejantes no interior do covil. A hidra saiu furiosa, atacando o herói. E Hércules combateu-a bravamente, até perceber que não adiantava lutar contra ela. Então, ele se ajoelhou e agarrou-a, erguendo-a bem alto, além da atmosfera do pântano. Exposta ao ar puro e à luz, a hidra não pôde viver, e suas cabeças tombaram mortas.
A hidra representa os impulsos inferiores e complexos que residem na caverna escura do inconsciente e contaminam a mente, o coração e a vida humana. Ela é o conjunto de todos os pensamentos, emoções e desejos excessivos, desequilibrados, mal trabalhados. A hidra existe no interior de cada um de nós, sem exceção, pois faz parte da natureza humana. Encontrá-la e enfrentá-la requer uma tremenda coragem, e é um trabalho para o Hércules que também existe em nós.
Comumente, ao entrarmos em contato com os ensinamentos espirituais, nós os interpretamos de maneira simplista, distorcida e ilusória. Naturalmente, fazemos isso sem perceber, com muita dedicação sincera, mas pouca inteligência espiritual. Assim, imaginamos que, no caminho espiritual, devêssemos logo nos livrar de todas as tendências inferiores, todo medo, raiva, ambição, vaidade, orgulho, etc. Mas o que acontece, então, é que tudo isso apenas fica escondido em nosso inconsciente, e continua contaminando a nossa vida interna e externa.
Um dos principais requisitos para a iluminação da consciência é a humildade, representada por Hércules ao ajoelhar-se. Ela nos permite reconhecer que somos como qualquer outro ser humano, sujeitos às mesmas falhas, dificuldades e limitações. Então, não pretendemos ser diferentes, especiais, melhores. Nem fingimos — para nós mesmos e para os outros — que não temos dentro de nós todas as tendências que são comuns a todos os seres humanos. Assim, podemos encarar com naturalidade e maturidade o que quer que surja dentro de nós. E podemos não lutar contra, mas elevar o nosso problema para outro nível de compreensão.
Um problema não pode ser resolvido a partir do próprio nível em que foi criado, a resolução acontece a partir de um nível mais alto. Quando alcançamos uma perspectiva mais elevada — e portanto, mais abrangente ou compreensiva —, podemos conhecer as causas de uma situação e então mudar a maneira como lidamos com ela. Nas alturas de uma mentalidade sábia e amorosa (a luz e o ar puro), podemos compreender que tudo o que existe em nós é bom, desde que seja mantido na sua justa medida, no seu correto lugar e no seu momento apropriado. Não há nada a ser combatido ou exterminado dentro de nós, mas apenas compreendido e reajustado.
Ricardo A. Georgini
ricardogeorgini@yahoo.com.br
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